sexta-feira, 9 de maio de 2008

St. PetersBurgo - Rússia

Tento manter-me acordado (isto de iniciar uma viagem de autocarro às 6h da matina do Vappu Day, só poderia acabar numa curta passagem por casa para tomar aquele banho e fazer as malas), mas o sol brilha no céu, dificultando ainda mais a tarefa. Em breve vou ultrapassar uma grande fronteira. Durante toda a nossa vida reparamo-nos com fronteiras e barreiras, que de uma forma ou outra tentamos evitar ou ultrapassar. Esta é um desejo muito antigo de ser ultrapassada, onde a preparação começou umas semanas antes, com a obtenção do visto e estudo do ambiente que me esperava. Estou prestes a entrar na Rússia. Para mim pessoalmente significa um grande passo, o cumprimento de um dos meus grandes objectivos “viajeiros”, pois embora continue na Europa, cada vez estou mais perto do oriente. Entre a fronteira finlandesa e a russa existe a chamada terra de ninguém, espaço de transição entre a a União Europeia e Rússia, espaço de transição entre a verdadeira democracia e a que finge ser. Do outro lado está o país poderoso, que liga o ocidente ao oriente, tendo como algumas fronteiras a União Europeia, a China ou o Alaska, posição bem definida no brasão da bandeira Russa onde as duas àguias voltadas miram o oriente e o ocidente estando a Rússia no centro. Do outro lado está o país onde milionários e pobres vivem em uníssono, onde tanto pára num semáforo um Mercedes de última classe como um Lada que para pegar tem de ser ao empurrão, ou simplesmente não pára nenhum, pois estes russos são um bocado loucos a conduzir. De uma forma geral, senti que também já tinha saudades desta confusão, já me faltava ver algumas regras a ser quebradas, sendo tudo levado com normalidade (a minha parte ruim a falar). O povo, talvez devido à opressão comunista dos últimos tempos, é por natureza desconfiado, com olhar sempre assustador, mas passando esta primeira barreira descobre-se simpatia, acolhimento, amizade.









O meu destino é St. Petersburgo. Comparada com cidades europeias, tem uma história bastante recente, apenas conta com 300 anos de existência. Mas não é por esse facto que deixa de ser tão maravilhosa ou imponente como muitas das grandes capitais europeias. Com 5 milhões de habitantes, é a 4ª maior cidade da Europa, apenas sendo ultrapassada por Moscovo, Paris e Londres. A cidade foi fundada pela Imperador Pedro o Grande, comemorando assim a conquista daquela àrea aos suecos. A cidade nasceu com a fortaleza de Pedro e Paulo, numa ilha do Rio Neva. Desde aí foi crescendo gradualmente, sendo todos os passos sempre muito bem planeados e arquitectados por grandes nomes europeus da altura. Por isso, St. Petersburgo é acusada de ser a cidade mais europeia de toda a Rússia. Na verdade, senti por vezes em determinados locais que podia estar em Paris, Londres, Veneza, Amesterdão, Budapeste... Esta mistura de influência europeia aliada com a da pátria mãe faz com que St. Petersburgo seja um lugar singular, de visita obrigatória.





Depois de um dia de viagem de autocarro, nada melhor que um jantar típico russo, onde não faltou o folclore, as comidas sempre com bastantes legumes (basta lembrar da origem da nossa salada russa) e claro a tão apreciada Vodka. Essa noite tornou-se especial, pois o Zenit consegui o lugar na final da taça Uefa ao derrotar o Bayern Munique por 4-0. Era ver a cara de desolados dos alemães, e ouvir os buzinões e bandeiras no ar, vindos do lado russo. Afinal, esta vitória não era apenas futebolística, no fundo a equipa russa derrotou o gigante alemão, ou seja, sabor da vitória a dobrar, ou talvez triplicar.







O segundo dia foi cheio de emoções. Depois de uma grande caminhada pela manhã pelo centro da cidade, visitei algumas das igrejas ortodoxas, entre elas a magnífica catedral de St. Isaac. Uma obra de arte magnífica, com decorações de encher o olho de qualquer ser humano, pinturas explêndidas, tudo pensado ao pormenor. Na porta de entrada está representada o porquê da escolha da igreja ortodoxa para a Rússia. Um homem foi enviado a visitar e conviver com as 3 grandes religiões da época a católica, ortodoxa e a islâmica. A sua escolha seria a religião adoptada pela Rússia. Ou seja milhões de pessoas têm a sua crença baseada numa instituição, porque um dia uma pessoa se lembrou que essa seria a adoptada. A decisão não podia ter sido mais caricata pois foi baseada no facto de que quando o enviado entrou numa igreja ortodoxa pela primeira vez, teve a sensação que tinha chegado ao céu. (o número de vodkas consumidas antes da entrada não foi divulgado).













Da parte de tarde foi a vez do Hermitage Museum, talvez o maior ex libris da cidade, a maior galeria de arte da Rússia, e considerado um dos melhores museus de arte do mundo. Na verdade o Hermitage Museum é um conjunto de edificíos, que foram construídos ao longo da história, e tem como principal edifício o magnífico Winter Palace, residência oficial dos Csar’s. Aqui podem-se admirar obras desde Leonardo DaVinci, Raphaelo, Miguel Ângelo, Picasso passando por Monet, Renoir, Cezanne, Manet até Van Gogh, Matisse e Gaugin. Entre quadros, esculturas e inúmeras outras peças de arte, está comprovado se passasse 5 minutos em cada uma demoraria 11 anos a visitar o museu. Abreviei um pouco no tempo , mas posso-vos garantir que a minha tarde foi eterna e replecta de Uausss!!!! Para resumir em duas palavras diria FAN TÁSTICO!







Mas deixemos de visitas turísticas e vamos lá ver como estes camaradas disfrutam a noite. Comecei com um passeio de barco nocturno entre os principais canais da cidade, observando a cidade com Pedro o Grande desejaria, ou seja, admirando todo o seu esplendor durante a noite, com todos os edifícios “vestidos” a rigor com inúmeras luzes e projecções, preparados para esta enorme noite de gala. É tempo de partir a aventura e entre um bar clandestino, que não era mais que um apartamento com um bar e um DJ a passar Drum & Bass e uma passagem por um clube chamado Revolution (que nome mais apelativo para um clube na Rússia) terminou a minha noite, que a esta hora já passava o testemunho à secreta madrugada.








De manhã, ainda com uma enorme dor nas pálpebras, fui visitar o Palácio de St. Catherine, um palácio de Verão mandado construir para Catherine I, que fica situado nos arredores da cidade. Durante o cerco de 900 dias que os nazis fizeram a Leninegrado (nome de St. Petersburgo durante a época comunista) na Segunda Grande Guerra, este palácio foi ocupado pelas tropas alemãs que no final o destruiram por completo, permanecendo apenas as paredes. Aliás toda esta zona, que fica situada num monte onde se pode observar a cidade bem ao longe, estava ocupada pelos nazis, bloqueando todo o acesso à cidade. Durante 900 dias, muitos milhares de pessoas morreram à fome, mas a cidade nunca parou, continuando sempre as escolas e serviços em funcionamento. A cidade nunca se rendeu, por isso St. Petersburgo ser reconhecida como cidade de força e persistência.
Do palácio de salientar as enormes e vastas salas de jantar, cada uma decorada de forma completamente diferente, mas todas com exuberância, numa forma de mostrar aos convidados todo o poder dos imperadores russos, a magnífica sala decorada com paineis de âmbar, (a primeira foi saqueada pelos alemães durante a guerra, não se sabendo o seu paradeiro constituindo assim um dos grandes tesouros perdidos da história) e os jardins em todo o redor onde não podia faltar um lago.







A minha estadia estava a chegar ao fim, por isso aproveitei a tarde para usufruir mais a cidade e os arredores, deslocando-me de autocarro e metro. Durante as visitas, conheci a Olga, a nossa guia que além de russo falava inglês, espanhol e grego, é uma pessoa super inteligente, simpática e de uma humildade que já não se encontra. Nessa noite e depois de um passeio a pé a admirar o pôr do sol, devidamente acompanhado por fogo de artifício, fomos convidados (eu, os tugas e a Laura que é mexicana) a visitar a sua casa onde nos presenteou com comida típica russa e um bom vinho branco ucraniano. Já no regresso ao hotel, de táxi com 6 pessoas lá dentro, pensei...pensei...e em bom inglês, misturado com russo e português e alguma língua gestual lá consegui explicar ao taxista que não me apetecia voltar sem mais uma noite russa para recordar. Deixou-me sozinho numa zona de clubes e bares, situação que felizmente foi temporária. Encontrei um grupo de outros viajantes, o que indicou tiro certeiro no escuro. Acordo de manhã num hostel numa zona da cidade que fica a alguns quilómetros do meu hotel, numa cama sem colchão. Ups, são 10h da matina e às 11h o autocarro parte de volta, e os finlandeses nunca esperam pelos atrasados. É melhor “dar bastante à sola”.









Felizmente cheguei a tempo e a viagem de regresso foi tranquila, já com cheirinho a saudade. Para me lembrar destes dias, nada melhor que comprar duas garrafinhas de Vodka russa. Uma é para a estante...a outra não deve lá chegar! Agora só quero chegar a casa (pela primeira vez senti Tampere como a minha cidade, onde está a minha casa. Posso-vos dizer que esta é uma sensação que demora a chegar, e só vem quando realmente se sente bem em qualquer lugar.)











Momentos:

- Descobrir que o autocarro de Tampere para a Rússia iam mais duas tugas, que por sinal estudaram em Aveiro, e por mera coincidência a cara delas nem me era estranha e tínhamos bastantes amigos em comum. Não havia chineses na viagem. Conclusão: os tugas são piores que os chineses.

- Primeira noite a caminho de casa. Pára um carro, em St. Petersburgo qualquer carro pode ser táxi. Tento negociar mas o preço já está pré-programado na cabeça do russo, mal encarado com olhar estranho. Ele só sabe dizer aquele número em inglês. Deal! Resolvi entrar. O carro um Lada, possivelmente mais velho que eu, a minha porta não fechava completamente, cinto não é preciso. Não faltavam os santinhos e terços ortodoxos, e a velocidade que ele ia até me fez sentir em casa (Portugal). Mas ao contrário de tudo o resto, o rádio e som era de qualidade. A música é popular russa, e tenho uma atitude que fez com o ambiente pesado mudasse completamente. Decido aumentar o volume... o russo olha para mim, sorri. Começo a curtir a música e ele também. Um português, um russo, não entendem patavina que dizem um ao outro, mas cruzam a cidade num carro fora de normal a ouvir grande som russo, todos contentes da vida. Cheguei ao hotel. Antes de bazar o russo chama-me, sorri, levanta o polegar e diz algo tipo ”Portugalsko”. Sim eu sei... a malta no fundo até é porreira.

- Revolution. Clube no centro da cidade, duas pistas de dança mais dois bares. Primeiro bar, karaoke russo...que brutalidade! Segundo bar, no último andar grande vista para a cidade. Primeira pista de dança electrónica comercial com russo à mistura. Segunda pista com um ambiente muito underground, passa techno..mas do tempo da avozinha. Decido ficar pelo bar que dava acesso a primeira pista. Começa o concurso, quem dança melhor do público. Rapazes e raparigas sobem ao palco, entre danças patéticas e outras assim assim chega a vencedora..além de dançar sexy, esta menina lembrou-se de tirar a sua roupinha enquanto dançava...festa total!!! Felizmente não foi a primeira vez, na Roménia já tinha visto algo parecido, mas aí era mesmo obrigatório se quisessem ganhar a garrafinha de whisky.

- Lembrei-me de apanhar o metro, ir até ao final da linha e descobrir os subúrbios. Primeiro grande filme comprar os tokens do metro. Depois, descobrir qual a direcção e linha a tomar pois como devem imaginar tudo estava escrito em cirilico. Depois de algumas perguntas falhadas lá segui rumo. A confusão é geral e normal dos metros das grandes cidades. Saio na última estação e entro na primeira “tasca” russa que encontro. Lá dentro, 4 russos incluindo o empregado, olham para mim com cara de desconfiados, como sempre. Aqui não há turistas é fora da zona onde se pode andar com alguma precaução. Inglês ninguém sabia, pensavam que eu era americano. Bem, eu sou burro mas nem tanto, e falo-lhes no nosso lindo português. Primeira reacção... Figo, Figo. Sem dúvidas, continua a ser o maior embaixador de Portugal. Ele e a rodada de vodkas que bebemos talvez me safaram, mas gostei daquele pedaço, onde embora não entendesse nada do que dali vinha, eles não paravam de falar comigo e mostravam-se contentes pela minha presença. Provei a comida deles, acabei a minha cervejinha e pus-me a caminho. Eles ficaram a pensar...donde é que apareceu este marmanjo?




Momentos menos positivos:


- A àgua cheirava mal, muito mal mesmo. Não aconselhavam nem sequer a lavar os dentes.



Pessoas que ficam:

Além dos tugas, a Inês, a Sara e o Júlio, a Laura uma mexicana que está num programa tipo Erasmus, onde vai passar por...Aveiro, a Olga excelente embaixadora da sua cidade, o finlandês Max grande companheiro na longa viagem de autocarro, o Mikko e a Kaisa casal jovem de finlandeses que organizam estas viagens e sempre prontos para ajudar e cheios de grandes histórias para contar, o Enrico e a Maija ele italiano e ela finlandesa, outro casal jovem com quem simpatizei e troquei algumas boas histórias e a Eeva e a Susana duas finlandesas que me acompanharam em alguns sítios e sempre cheias de boa disposição.













Bem, a viagem foi longa, e a escrita também está a prolongar-se. Para me despedir posso-vos garantir de uma coisa. Desta vez aconteceu mesmo. Existem provas que

O RATO ROEU A ROLHA DA GARRAFA DE....VODKA....DO REI DA RÚSSIA!

2 comentários:

Nês disse...

Eheh :) Obrigada pelo comentário.
O teu blog tb está mto fixe :)
Foi uma viagem espectacular :)

Beijinhos,
Inês

Anónimo disse...

Olga Olga mas ke grande folga...